Apesar de atingir cerca de 3% da população mundial, pouco se sabe sobre as causas da língua geográfica, alteração que apresenta manchas vermelhas com contornos esbranquiçados na língua – mas que não oferece riscos à saúde. O nome popular da glossite migratória benigna é dado pela semelhança com o desenho de mapas.

“A língua geográfica vem sendo estudada há décadas. Alguns autores acreditam que tenha ligações com fatores emocionais e psicológicos. Outros com alergias, fatores ambientais, hormonais ou hereditários. Mas nada foi comprovado”, afirma Cleto Piazzetta, professor da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Está confirmado, no entanto, que as manchas avermelhadas ocorrem a partir da omissão de papilas gustativas – responsáveis pelo paladar humano – de determinadas áreas da língua. A “migração” do sintoma acontece pela omissão de outras áreas e reaparecimento das papilas em outras. Além disso, as manchas podem durar várias semanas, não há intervalo certo entre as aparições, e a frequência difere entre pacientes.

Nos períodos de atuação, a língua geográfica pode causar desconforto e ardência, o que piora com a ingestão de alimentos ácidos ou apimentados. “O tratamento que existe é sintomático. Ou seja, se indica alguns remédios para diminuição da ardência”, relata Piazzetta. Quando associada à alteração chamada língua fissurada, o que ocorre com frequência, os relatos são de maior sensibilidade no músculo.

A boa notícia é que não há como a língua geográfica evoluir. “Não há nenhuma possibilidade de haver transformação para algo mais grave. Essa é uma unanimidade entre os autores (de estudos sobre a alteração)”, afirma. O professor ainda observa que, quando isso é dito durante a consulta, geralmente o paciente se tranquiliza, e os sintomas podem até regredir – o que justificaria a relação da língua geográfica com fatores emocionais.

As manchas migratórias também podem aparecer em outros lugares, como no assoalho da boca (embaixo da língua), nas bochechas ou no palato (céu da boca). Porém, o professor Piazzetta afirma que esses casos são mais raros. Outra situação pouco comum, de acordo com ele, é quando a língua geográfica se apresenta como uma mancha arredondada, vermelha, pequena e imóvel.

Câncer de língua tem sintomas parecidos

Alexandre Thomáz, professor do curso de Odontologia da Faculdade São Leopoldo Mandic, afirma que os sintomas da língua geográfica podem ser confundidos, ao primeiro olhar, com o de doenças como o câncer de língua. “A língua geográfica difere de uma lesão de câncer por migrar entre regiões. Mas o ideal é que a pessoa procure um especialista sempre que desconfiar de algo diferente”, recomenda.

Os sintomas da candidíase oral (sapinho), infecção por fungo que causa ardência, e da anemia, que pode fazer com que a língua fique avermelhada, também podem gerar confusão, segundo o professor Piazzetta. “O diagnóstico de língua geográfica é clínico, não envolve exames aprofundados. Quando há dúvida, é feita a biópsia e, por fim, uma análise”, diz.

Fumantes

O fumo é um fator que diminui o aparecimento da língua geográfica em pacientes que têm a alteração. Isso ocorre porque o hábito favorece maior queratinização das células. “Na pele, por irritação ou choque, surgem calos, células mais grossas e espessas que contêm queratina. Na mucosa (da boca), acontece o mesmo, com a irritação do cigarro. Portanto, podem diminuir os sintomas”, explica Piazzetta.

No entanto, o professor Piazzetta não aconselha, “de jeito nenhum”, a adoção do hábito. O fumo é a principal causa do câncer de boca, sobretudo se associado ao consumo de álcool. Estimativa do Instituto Nacional do Câncer apontam para 15.290 novos casos da doença em 2014.

Fonte: MSN.